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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Drama e correria no Couto Pereira

Texto retirado do blog, http://colunistas.ig.com.br/blogdebola/2009/12/07/drama-e-correria-no-couto-pereira/

Mauricio Teixeira É jornalista e apaixonado por futebol e internet. É coordenador em português da Comunidade web 2.0 de Futebol OleOle.com. Pelo iG, foi para a última Copa do Mundo e Olimpíada.

Para quem não viu, seguem as imagens da bárbarie



Quem me contou o abaixo ocorrido é adulto, tem 33 anos, capaz e praticante de boxe. Frequenta estádios eventualmente e não é nenhum marinheiro de primeira viagem em termos de futebol e suas confusões. Não tem, assim, motivos para exagerar no relato que me fez após estar no estádio Major Antonio Couto Pereira, no Alto da Glória, no último domingo depois do jogo Coritiba 1 x 1 Fluminense, que salvou o segundo e rebaixou o primeiro do Brasileirão 2009.

“O jogo acabou e não deu tempo das pessoas ’sofrerem’. Geralmente quando você tem uma tristeza grande, você precisa chorar de tristeza, colocar para fora, sentir de verdade a perda. Mas foram apenas 30 segundos de choro de tristeza até o primeiro torcedor invadir o gramado. Logo virou choro de pânico. Crianças e mulheres desesperadas. 

Vários torcedores invadiram o gramado e a parte onde eu estava começou a ficar agitada, tentando sair. Como as saídas estavam bloqueadas e tinha correria, a turma da arquibancada da rua Mauá foi para cima, o mais longe possível da confusão. Mas do lado de fora, a polícia de elite já estava acionada. E mandava tiros de efeito moral, para cima. Como a gente estava na parte alta do estádio, ficamos com medo e fomos ao chão. Centenas de homens, mulheres e crianças deitadas de bruços no chão do último andar do segundo anel do estádio. Parecia uma guerra. Crianças em pânico. 

O helicóptero para resgatar feridos chegou e continuamos ilhados no Couto Pereira. Algumas mulheres desesperadas com seus filhos queriam correr em direção à saída. Eu e alguns torcedores que estavam perto de mim organizamos um cordão de isolamento humano improvisado pois se as pessoas corressem naquele momento seria uma tragédia. O pânico e a corrida desordenada certamente fariam torcedores serem empurrados ou pisoteados na direção das grades.

Conseguimos conter o ímpeto de fugir das pessoas. Nas rádios, os jornalistas mandavam todos ficarem no estádio pois lá fora era uma batalha campal. Ao mesmo tempo, policiais atiravam bombas de borracha na torcida organziada Império Alviverde e alguns fugiam para o nosso lado. Se correr o bicho pega se ficar o bicho come. 

Depois de um tempo, resolvi que precisava ir embora. Fui sozinho. Quando saí do estádio na rua Mauá, vi a polícia vindo com bombas e armas. Na minha direção, uma multidão de torcedores correndo e vários policiais os seguindo. Sem saber exatamente o motivo, saí correndo. Como um bandido. Como se tivesse feito algo. Corri como nunca tinha corrido antes. Seis, sete quadras sem parar até chegar na rua José de Alencar, num local mais seguro. Os celulares não funcionavam, os táxis todos lotados. Nos prédios próximos, moradores abrigavam algumas pessoas que fugiam sem direção, como mulheres e idosos.”


O relato é impressionante apesar de não ser diferente de outras grandes confusões em estádios pelo Brasil. As primeiras notícias são de cerca de 20 feridos nos hospitais curitibanos. Alguns são baderneiros que invadiram o gramado. Lamento pelos policiais e por outros inocentes que, como a testemunha que fez o relato acima, poderiam ter se machucado sem ter nenhuma culpa.

Mas, sobretudo, temo pelas crianças. Não se machucaram aparentemente. Espero que não percam o amor por este esporte mas entendo totalmente se perderem.

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