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sábado, 14 de abril de 2012

Entrevista com o técnico do Barcelona juvenil, e ainda dizem que é balela.

DIRETO DE AMSTERDÃ

A comissão técnica do Desportivo Brasil está ansiosa pelo confronto entre Barcelona e Ajax pelas semifinais da Aegon Future Cup. O coordenador técnico e ex-treinador Lucas Goes pede que se filme a partida e acompanha o confronto, no último sábado, com máxima atenção. Os estilos são similares, se confundem. Mas Lucas conta 11 ligações diretas defesa-ataque da equipe holandesa, que venceria o duelo nos pênaltis. Do Barça, linear e sempre igual, nenhuma. É bola de pé em pé.


O treinador desse time, Francisco Javier Pimenta, atendeu a reportagem do Olheiros por 30 minutos para explicar mais, e de forma detalhada, sobre a melhor base do planeta. A que constrói o time que se encaminha para ser o maior onze inicial da história do futebol mundial, com até 80% dos titulares feitos na casa, em La Masía. Pimenta, ex-jogador do Barça, soma seis anos como treinador da formação. Ele foi auxiliar técnico da geração /87, com Piqué, Fabregas e Messi. Quiçá a melhor da história barcelonista.

Pimenta está no comando do Juvenil B, o sub-17. À frente, só o Juvenil A e o Barça B para alcançar a primeira equipe. Treinador há seis anos, soma quase duas décadas de convívio no seio barcelonista. Sabe exatamente o modelo de jogadores que se busca na base azul-grená.
Não pode dar chutão, não pode ser grande demais e ter técnica de menos. Um tapa na cara nos times que vencem torneios na base com centroavantes grandalhões que nunca irão se confirmar nos profissionais. "Pode ser o melhor do torneio, mas para nós não serve. Em cima, se pedirão coisas que ele não poderá fazer". 

Confira a entrevista exclusiva na íntegra:
Olheiros - Como avaliou o confronto com o Ajax na Future Cup?
Francisco Javier Pimenta - Um time muito bom, muitas ideias similares às nossas porque faz as coisas rápidas. Quando tivemos a bola, deixamos o rival atrás. E quando eles têm, nos dão problemas também. Tentamos adaptar os jogadores a esse tipo de partida, porque também iríamos sofrer. É importante isso porque na maioria das partidas temos sempre a bola. Podemos ter dificuldades, mas sempre temos a bola. Por isso, esse tipo de jogo é importante. Se não tem a bola, precisa correr e se cansa. Isso vale como experiência para os garotos. Sentimos o que a maioria das equipes sente quando nos enfrenta.
Olheiros - Agora vamos falar de forma mais ampla. Existe uma padronização tática, de fato, como costuma se dizer?
Pimenta - Todas categorias jogam em 4-3-3, mas podemos mudar para o 3-4-3. Há essas duas características para o tipo de equipe. No 4-3-3, dois jogadores na defesa (zagueiros), um muito próximo (primeiro volante) e mais dois (meias). Durante as partidas podemos mudar, temos essa variante.
Olheiros - Qual é o tipo de jogador que serve ao Barcelona na base?
Pimenta - Se queremos contratar um jogador, contratamos com o perfil da posição. Um jogador às vezes pode jogar bem aqui no torneio, mas para nós pode não servir porque não joga bem. Ou porque não joga rápido. Isso (filosofia) demora anos a se encontrar.
Olheiros - Não é possível adaptar um jogador de outro estilo?
Pimenta - Um bom jogador sempre irá se adaptar a todos os sistemas. Mas temos a experiência de grandes jogadores de categorias pequenas que chegaram ao time B (último estágio para a primeira equipe) e não se acostumaram ao jeito de jogar. Por esse estilo, essa maneira, essa velocidade. Para eles custa muito. Mas há alguns que demoram a se adaptar, também. Cinco meses, seis meses, mas depois conseguem. Outros seriam os melhores em outras equipes, mas aqui não iriam se adaptar.
Olheiros - Qual a idade máxima para o Barcelona buscar jogadores na base?
Pimenta - Para o sub-14 é a idade ideal. No time sub-15, ele está desenvolvendo o corpo. Já pensamos mais acima, na formação, e vemos se o menino tem condições ou não. Às vezes pode parecer muito bom antes, mas depois não se desenvolve. Quando chega com 14 anos, você normalmente tem quatro anos ou mais de margem na formação. São dois anos no cadete e três no juvenil. Cinco anos de formação.
Olheiros - Acima dos 14 anos é muito difícil?
Pimenta - Sim, só em casos específicos. Para os juvenis, são um ou dois por ano, quando muito. No Barça B, um ou nenhum. São muito poucos.
Olheiros - Mas como olhar para o jogador de 10 anos e imaginar se ele vai jogar no Barcelona?
Pimenta - Se contratamos é porque pensamos que vai subir, que vai progredir. Que pode chegar, não que vai chegar. É muito difícil, há muitos jogadores. Nem todos servem para nós. Às vezes tem uma característica de centroavante que não queremos. É muito alto, forte, ganha de cabeça, mas não poderia jogar conosco porque futebolisticamente, em cima, pediríamos coisas que ele não vai poder fazer. Todos queriam o jogador e nós não queremos. Nesse momento iria muito bem, para os juvenis ou cadetes. Mas cremos que não chegaria em cima. Então não serve.
Olheiros - Você tem liberdade para fazer algo muito diferente?
Pimenta - Sim e não, porque todos que vêm até aqui têm a mesma ideia. Não posso jogar aqui com quatro defensores, quatro meio-campistas, dois centroavantes e bola acima, muita luta, defensivo...não e não. Já me conhecem e eu conheço o clube, o perfil de jogadores que precisamos ter. Todos que temos aqui precisam jogar bem. Para nós não é possível outro sistema de jogo. Para jogar aqui, precisa jogar como na primeira equipe.
Olheiros - Qual é a importância da adaptação no Barcelona B?

Pimenta -
Após os juvenis, alguns sobem ao Barça B. São equipes muito boas na segunda divisão, jogadores dois ou três anos maiores. Muita exigência, bolas largas, sempre muita dificuldade, campos ruins. Tem que dar o máximo para poder competir.
Olheiros - Dá para saber quantos vão chegar nos profissionais ou mesmo no Barça B?

Pimenta -
Impossível. Até lá são dois ou três anos, mas normalmente a maioria. Antigamente havia outra equipe entre o Barça B e o juvenil. Agora, o salto do juvenil ao Barça B, na segunda divisão, é mais difícil.
Olheiros - Como é a relação e a participação do Guardiola no trabalho dos treinadores da base?

Pimenta -
Ele tem muitíssimo trabalho na primeira equipe e não pode se dedicar tanto a isso. É quarta e domingo sempre. Mas a maioria dos treinadores a partir dos cadetes até acima, às vezes, sentamos com ele e conversamos. A maioria é composta por ex-jogadores da casa, desde pequenos, e conhecemos o Barcelona. São muitos anos trabalhando para jogar e todos trabalham mais ou menos na mesma linha. Nos reunimos periodicamente e, se ele necessita de alguma coisa, oferecemos.

Olheiros - A quem você se reporta?

Pimenta -
Temos Guillermo Amor, responsável pelo futebol do Barcelona da minha equipe (Juvenil B) até abaixo. E na primeira equipe, Barça B e Juvenil A, que já tem mentalidade claramente profissional, Zubizarreta é o máximo responsável.

Olheiros - Chegou a trabalhar com Messi? Podia imaginar tanto sucesso?

Pimenta -
Trabalhei como auxiliar no time do Messi, Piqué e Fábregas. Ele já era cadete A. No sub-16, já se via um jogador muito diferente. Podia acontecer ou não, mas se via um jogador de primeiríssimo nível. E outros jogadores /87, como Victor Vazques. Eram jogadores muito bons e se via que quatro ou cinco tinham perfil de primeira equipe. Juvenil, Barça B, mas se via perfil claríssimo de primeira equipe.

Olheiros - Ele já era baixo e tímido?

Pimenta - Já era baixo. A maioria é assim. Não viu aqui? Temos muitos pequenos. E não era tímido, não. Não era de falar muitas coisas, mas não tímido. Muito bom no vestiário, competitivo nos treinamentos e nas partidas da liga. No ano seguinte, subiu ao Juvenil B, Juvenil A, Barça C, Barça B e debutou no Barça A. Tudo em um mesmo ano! Jogava no Juvenil B e no Barça B sem nenhum problema. Era impressionante.

Olheiros - Esse momento é de satisfação para quem participou desse processo?

Pimenta -
Para nós, o mais importante êxito é quando um jogador da base chega na primeira equipe. É o maior êxito. É seu trabalho e sua recompensa. Em outros clubes há bases boas, muitos bons jogadores. E não chegam. Real Madrid tem grandes times, podem ganhar, mas não se aproveitam os jogadores na primeira equipe. Não é como aqui. Aqui quando é bom, subirá. Guardiola sempre tenta olhar os jogadores.
Olheiros - Esse sucesso traz algum tipo de pressão?

Pimenta -
Não. No Juvenil B, por exemplo, dois jogadores foram para o Arsenal e outro para a Juventus porque decidiram por uma melhor oferta econômica. Temos seis ou sete jogadores de 1996 (inscritos) e o torneio permite até um de 94 (o limite é /95). Competimos bem, perdemos, mas podemos perder. E resistimos ao máximo (contra o Ajax). Quando maior a dificuldade, mais aprendemos. Queremos que suba à primeira equipe porque aí poderão ganhar tudo. Se compete aqui, vai competir acima. Não tem pressão.
Olheiros - Thiago Alcântara será o substituto do Xavi?

Pimenta -
Fui treinador do Thiago no Cadete A e tínhamos claríssimo que ele seria de primeira equipe. O que fez Xavi no mundo do futebol é muito difícil de igualar. O que fez o pai de Thiago (Mazinho) no mundo de futebol é muito difícil. Thiago tem as condições de ser um grande jogador do Barça, pode substituir e tem muitas qualidades. Pode ser (substituto) porque é um excelente jogador.

Olheiros - E o irmão, Rafinha?

Pimenta -
Estava no Juvenil A anteriormente e também é um excelente jogador. Já subiu um ano antes e tem condições claríssimas de primeira equipe. Creio que terá as chances em pouco tempo. Depois precisará se manter.

Olheiros - Também se fala muito sobre o Deulofeu. O que pode dizer desse jogador?

Pimenta
- É de 94 e está jogando na segunda divisão. E debutou na primeira equipe! É um extremo e, no um contra um, é muito rápido e tem muita qualidade. É outro que normalmente precisará jogar na primeira equipe. Perfil Barça. É assim, é normal. No um contra um, tem o que exigimos.

Olheiros - No Brasil, de dois anos para cá, há muitos times que falam em executar o modelo Barça. É simples assim?

Pimenta
- A maioria das equipes quer trabalhar assim. Sempre há pessoas que veem ver como treinamos, mas passam dois anos e mudam as coisas. O perfil do jogador não é sempre o mesmo e não posso exigir algo do jogador que ele não pode dar. Por isso, às vezes não serve para nós. São muitos anos acreditando nisso, com treinadores que acreditam nisso.


Fonte: http://olheiros.net/artigo/ler/3315/o_melhor_jogador_do_torneio_pode_nao_servir_para_atuar_no_barcelona

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