Thomas DiBenedetto nasceu em Boston, mas o sobrenome escancara as
origens italianas. Da região de Salerno, especificamente. O empresário
de 61 anos está muito próximo de se tornar o acionista majoritário da
Roma, e tudo indica que o clube giallorosso não será um mero passatempo.
DiBenedetto se apresenta como um apaixonado por Roma – onde a
universidade em que se formou e hoje integra o conselho, Trinity
College, tem um campus há 25 anos – e pela Roma.
A Roma hoje é controlada pela Unicredit, instituição financeira que,
como principal credora da família Sensi, afundada, se apossou das ações
do clube. Um acordo permitiu que os Sensi, na figura da presidente
Rosella, permanecessem na direção administrativa enquanto os
controladores buscavam um comprador, mas nenhum passo é dado sem a
benção da Unicredit.
O time, que na temporada passada chegou a disputar o título ponto a
ponto com a Internazionale, este ano vem acumulando decepções. Caiu na
Liga dos Campeões para o Shakhtar Donetsk, está longe da briga pela
ponta no campeonato e viu o técnico Claudio Ranieri pedir demissão em
meio a relações difíceis com líderes do elenco – Francesco Totti entre
eles. Agora, com o ex-atacante Vincenzo Montella no comando, tenta ao
menos salvar o último objetivo, a vaga na próxima Champions. A seis
pontos da Udinese, quarta colocada, a meta está longe de ser simples.
DiBenedetto, sócio minoritário da New England Sports Ventures, que
comprou o Liverpool no ano passado, lidera um consórcio que será
proprietário de 67 por cento das ações da Roma. Entre os componentes de
sua equipe está gente capacitada, como James Pallotta, um dos donos do
Boston Celtics, da NBA. Richard D’Amore é especialista em novas mídias e
ajudará o clube a potencializar a marca internacionalmente. Por fim,
Michael Ruane, com longa carreira em fundos de investimento e no setor
imobiliário. Será ele o guru do novo estádio que DiBenedetto pretende
construir.
Em suas últimas idas ao Olímpico, entre elas a vitória por 1 a 0
sobre a Inter, em setembro, DiBenedetto saiu mal impressionado. "Naquela
noite a paixão dos romanistas me impressionou. É um pecado, porém, que
não haja uma estrutura adequada para esta torcida. O público fica longe
do campo, o barulho se perde com a distância", disse o empresário à
Gazzetta dello Sport.
A ideia é de um estádio à inglesa, com os torcedores próximos do
campo. A Roma daria, assim, um passo semelhante ao da Juventus, que
demoliu o frio Delle Alpi para construir seu novo estádio, onde jogará a
partir da próxima temporada.
"Creio que o problema principal seja a falta de estádios próprios,
confortáveis, acolhedores, capazes de aproveitar também outros negócios.
É hora de o governo e as instituições façam algo de concreto para
permitir aos clubes a construção de novos estádios. Será a única maneira
de voltar a vencer na Europa e para voltar a ser atração para os
melhores jogadores", argumenta.
Entre as instituições citadas por DiBenedetto está o comitê olímpico
italiano (Coni), que é dono do Olímpico e aluga o estádio para os jogos
de Roma e Lazio. O presidente do Coni, Gianni Petrucci, acusou o golpe e
reclamou das críticas do norte-americano: “Que façam seus estádios
próprios, são o caminho certo, mas enquanto isso respeitem o Olímpico.
Ele ainda nem é presidente da Roma e já está atacando o estádio onde os
dois clubes da capital pedem para jogar”.
O estádio da Roma é um sonho antigo, desde os tempos de Dino Viola
nos anos 80, mas nunca houve nada além de maquetes e projetos que não
saíam do papel. Agora parece o momento ideal para sair do discurso para
as ações.
Se o discurso for mesmo cumprido, a Roma pode esperar uma equipe de
ponta em breve. DiBenedetto acredita que somente as conquistas podem
fazer com que o investimento seja recompensado. A prioridade será
equilibrar os balanços, adequar o clube às normas do fair-play
financeiro, mas o futuro dono acredita que seja possível fazer isso e
ainda reforçar o time de forma suficiente a mudar de patamar.
"O objetivo é fazer da Roma um dos principais clubes do mundo, uma
equipe da qual a cidade possa se orgulhar, mas obviamente precisaremos
de tempo. Minha equipe é composta por pessoas que conhecem bem o futebol
mundial. Creio que alguns jogadores serão vendidos e outros chegarão:
pelo menos cinco ou seis novos", prometeu.
Construir um time vencedor é fundamental para que a estratégia de
reforço internacional da marca seja bem sucedida. Por isso, DiBenedetto
quer a Roma presente em todas as mídias, aproveitando as novas
tecnologias: "Para a Roma falamos em 'media company': um clube que saiba
desfrutar as novas técnicas de comunicação e das redes sociais. Será
fundamental para nós alcançar cada parte do clube, para vender melhor
nosso merchandising e, desta maneira, aumentar receitas e comprar
jogadores melhores".
Para que o projeto funcione, porém, a Roma precisa estar sempre
presente na Champions, o que a partir da próxima temporada ficará mais
difícil, com apenas três vagas disponíveis na Serie A. O torcedor
giallorosso tem razões, ao menos na teoria, para olhar para o futuro com
um pouco de otimismo. Será como viver novamente no pós-guerra, quando o
sonho americano alimentava o imaginário italiano.
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