Número total de visualizações de páginas

quarta-feira, 30 de março de 2011

Tu vuò fà el romano

Thomas DiBenedetto nasceu em Boston, mas o sobrenome escancara as origens italianas. Da região de Salerno, especificamente. O empresário de 61 anos está muito próximo de se tornar o acionista majoritário da Roma, e tudo indica que o clube giallorosso não será um mero passatempo. DiBenedetto se apresenta como um apaixonado por Roma – onde a universidade em que se formou e hoje integra o conselho, Trinity College, tem um campus há 25 anos – e pela Roma.
A Roma hoje é controlada pela Unicredit, instituição financeira que, como principal credora da família Sensi, afundada, se apossou das ações do clube. Um acordo permitiu que os Sensi, na figura da presidente Rosella, permanecessem na direção administrativa enquanto os controladores buscavam um comprador, mas nenhum passo é dado sem a benção da Unicredit.
O time, que na temporada passada chegou a disputar o título ponto a ponto com a Internazionale, este ano vem acumulando decepções. Caiu na Liga dos Campeões para o Shakhtar Donetsk, está longe da briga pela ponta no campeonato e viu o técnico Claudio Ranieri pedir demissão em meio a relações difíceis com líderes do elenco – Francesco Totti entre eles. Agora, com o ex-atacante Vincenzo Montella no comando, tenta ao menos salvar o último objetivo, a vaga na próxima Champions. A seis pontos da Udinese, quarta colocada, a meta está longe de ser simples.
DiBenedetto, sócio minoritário da New England Sports Ventures, que comprou o Liverpool no ano passado, lidera um consórcio que será proprietário de 67 por cento das ações da Roma. Entre os componentes de sua equipe está gente capacitada, como James Pallotta, um dos donos do Boston Celtics, da NBA. Richard D’Amore é especialista em novas mídias e ajudará o clube a potencializar a marca internacionalmente. Por fim, Michael Ruane, com longa carreira em fundos de investimento e no setor imobiliário. Será ele o guru do novo estádio que DiBenedetto pretende construir.
Em suas últimas idas ao Olímpico, entre elas a vitória por 1 a 0 sobre a Inter, em setembro, DiBenedetto saiu mal impressionado. "Naquela noite a paixão dos romanistas me impressionou. É um pecado, porém, que não haja uma estrutura adequada para esta torcida. O público fica longe do campo, o barulho se perde com a distância", disse o empresário à Gazzetta dello Sport.
A ideia é de um estádio à inglesa, com os torcedores próximos do campo. A Roma daria, assim, um passo semelhante ao da Juventus, que demoliu o frio Delle Alpi para construir seu novo estádio, onde jogará a partir da próxima temporada.
"Creio que o problema principal seja a falta de estádios próprios, confortáveis, acolhedores, capazes de aproveitar também outros negócios. É hora de o governo e as instituições façam algo de concreto para permitir aos clubes a construção de novos estádios. Será a única maneira de voltar a vencer na Europa e para voltar a ser atração para os melhores jogadores", argumenta.
Entre as instituições citadas por DiBenedetto está o comitê olímpico italiano (Coni), que é dono do Olímpico e aluga o estádio para os jogos de Roma e Lazio. O presidente do Coni, Gianni Petrucci, acusou o golpe e reclamou das críticas do norte-americano: “Que façam seus estádios próprios, são o caminho certo, mas enquanto isso respeitem o Olímpico. Ele ainda nem é presidente da Roma e já está atacando o estádio onde os dois clubes da capital pedem para jogar”.
O estádio da Roma é um sonho antigo, desde os tempos de Dino Viola nos anos 80, mas nunca houve nada além de maquetes e projetos que não saíam do papel. Agora parece o momento ideal para sair do discurso para as ações.
Se o discurso for mesmo cumprido, a Roma pode esperar uma equipe de ponta em breve. DiBenedetto acredita que somente as conquistas podem fazer com que o investimento seja recompensado. A prioridade será equilibrar os balanços, adequar o clube às normas do fair-play financeiro, mas o futuro dono acredita que seja possível fazer isso e ainda reforçar o time de forma suficiente a mudar de patamar.
"O objetivo é fazer da Roma um dos principais clubes do mundo, uma equipe da qual a cidade possa se orgulhar, mas obviamente precisaremos de tempo. Minha equipe é composta por pessoas que conhecem bem o futebol mundial. Creio que alguns jogadores serão vendidos e outros chegarão: pelo menos cinco ou seis novos", prometeu.
Construir um time vencedor é fundamental para que a estratégia de reforço internacional da marca seja bem sucedida. Por isso, DiBenedetto quer a Roma presente em todas as mídias, aproveitando as novas tecnologias: "Para a Roma falamos em 'media company': um clube que saiba desfrutar as novas técnicas de comunicação e das redes sociais. Será fundamental para nós alcançar cada parte do clube, para vender melhor nosso merchandising e, desta maneira, aumentar receitas e comprar jogadores melhores".
Para que o projeto funcione, porém, a Roma precisa estar sempre presente na Champions, o que a partir da próxima temporada ficará mais difícil, com apenas três vagas disponíveis na Serie A. O torcedor giallorosso tem razões, ao menos na teoria, para olhar para o futuro com um pouco de otimismo. Será como viver novamente no pós-guerra, quando o sonho americano alimentava o imaginário italiano.

Sem comentários: