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sábado, 19 de junho de 2010

As verdades por trás das muitas mentiras que a FIFA conta

por Fernando A Fleury, blogueiro do ESPN.com.br

Está semana na coluna Mundo, da rádio bandeirantes, o jornalista Demétrio Magnoli apresentou uma analise a respeito de um estudo realizado para avaliar os impactos dos grandes eventos esportivos no país sede. Neste estudo foram analisados as Olimpíadas de Atenas e de Sidney, a Copa do Mundo do Japão e de Alemanha e, também, a Eurocopa de Portugal. A idéia central do trabalho era analisar três fatores centrais, utilizado por aqueles que defendem a realização dos eventos nos moldes atuais: forte impulso ao crescimento do PIB do país sede, o aumento continuado do turismo e se os lucros justificam os investimentos, ou seja, existe a tal recompensa financeira para o país sede.

Os resultados apresentados são uma ducha de água fria nas entidades que “comandam” estes eventos.

Na primeira questão, a respeito do PIB nacional, fica evidente que não existe o tal impulso. A Copa do Japão não impediu o país de entrar em recessão e na Alemanha o impacto foi tão ínfimo que foi desprezado pela analise.

Na questão relacionada ao turismo o estudo revela mais uma farsa. É verdade que o turismo aumento no ano do evento, mas ele não se sustenta nos anos seguintes. Mesmo na Austrália, que apostou muito no crescimento do turismo no país e investiu para isso, o retorno ficou muito aquém do esperado.

Por fim, o ponto principal. Os custos de tais eventos compensam, pois as recompensas financeiras são enormes?
Mais uma mentira. Fica comprovado nos estudos que os custos finais são sempre muito superiores aos custos iniciais que norteiam as analises de viabilidade financeira. Os exemplos são evidentes: Nas Olimpíadas de Atenas os custos estimados eram de US$ 1,5 bilhões e acabou custando US$ 15 bilhões. Já na Copa da África os custos iniciais foram orçados em US$ 300 milhões e a conta final ficou acima dos US$ 4 bilhões fora os investimentos em infra-estrutura. As contas finais apresentam números na ordem dos US$ 8 bilhões. Em compensação o PIB do país ficará abaixo dos US$ 3 bilhões de dólares demonstrando um claro prejuízo ao país sede.

Então a Copa da prejuízo?

Para o país anfitrião com certeza, para a FIFA não. Para o país sede as contas são ainda piores. A entidade máxima do futebol obriga o país que recebe o evento a conceder inúmeros incentivos fiscais que beneficiam a entidade. Na África, assim como no Brasil, a FIFA recebeu garantias por escrito de que pagará impostos sobre a comercialização de produtos, direitos de transmissão e quase todas as formas de receita ligadas à Copa.

Assim enquanto a África, que já sofre com inúmeros problemas sociais, terá que arcar com as dividas deixadas pela passagem da Copa em seu solo, a FIFA e as Confederações ligadas a ela engordam cada vez mais seus cofres sem se preocupar com mais nada.

E o tão falado legado?

O legado deixado pelos grandes eventos esportivos está totalmente relacionado à capacidade política do país. O verdadeiro legado são as obras de infra-estrutura que tais eventos podem agilizar, mas que de qualquer maneira deveriam ser realizadas com ou sem o evento.

Um ponto interessante do estudo apresentado diz respeito a uma das questões mais faladas para a Copa no Brasil: os estádios.

Com exceção da Alemanha, que possuí um campeonato nacional lucrativo (o mais lucrativo da Europa, diga-se de passagem) em locais como a África e até mesmo Portugal, os estádios tendem a virar verdadeiras ruínas pós modernas. E muitos dirão: Ah.. O Brasil tem um grande campeonato nacional! Verdade. Mas concentrado no eixo sul-sudeste do país. Arenas serão construídas em 12 cidades, nos mais diferentes cantos e muitas delas tenderão a serem classificadas como verdadeiras ruínas ou os chamados elefantes brancos. Todas as cidades sedes deveriam apresentar publicamente planos, não apenas de viabilidade financeira, mas de utilização do local pós evento para evitarmos que o Estado tenha que intervir no processo de manutenção. Manter uma arena é impossível pensando apenas em futebol ou numa Copa do Mundo.

Em suma, do ponto de vista econômico os grandes eventos compensam para poucos e deixam como grande legado dividas enormes que serão pagas pela população durante mais de 30 anos.

O Brasil e as cidades sedes da próxima Copa são muito maiores que qualquer evento e é bom todos nós abrirmos os olhos para não sermos enganados. Como o próprio estudo apontou, o único ganhou real para o país, com estes grandes eventos, é o chamado efeito econômico da felicidade. A sensação de felicidade nacional, de propósito em direção de um objetivo comum, criando uma unidade nacional capaz de causar impactos sociais e econômicos, desde que bem aproveitada pela classe política do país, para o bem do país. Mas por enquanto só quem está sabendo usar isso, no Brasil, é a CBF, que está transformando tudo em uma decisão fomentada por paixão clubísticas e deixando de lado as verdadeiras necessidades do país e, principalmente, das cidades que irão sediar a farra estrangeira.

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